Jóse Martins na pausa para almoço

A Lisboa de… José Martins

A “nossa” Lisboa

Hoje dou inicio a uma nova Rubrica aqui no Blog, “A Lisboa de…”, em que uma figura pública nos vai falar um pouco da “sua” Lisboa. Mais do que uma entrevista, pretende ser uma conversa informal sobre a  nossa Capital. E sobre a visão que cada convidado tem sobre Lisboa.

Para a estreia desta rubrica convidei José Martins, actor e encenador, fundador do Teatro da Malaposta, sobejamente conhecido do grande público e que despensa apresentações.

aproveitamos a pausa para almoço da nova produção da SP Televisão, da qual o José faz parte, para dar inicio a esta tão agradável conversa.

Lovely Lisbonner: Sei que houve uma época da sua vida em que fazia grandes passeios a pé, por Lisboa.

José Martins: Sim, começávamos na parte central de Lisboa e durante várias semanas percorremos Lisboa a pé. Começávamos por volta das 16horas e até às 20horas percorríamos vários kms.

Lovely Lisbonner: E nessas caminhadas, faziam primeiro um roteiro do percurso, planeavam, ou surgia naturalmente?

José Martins: Não era nada planeado, partíamos do local combinado e aí é que decidíamos o percurso daquele dia.

Lovely Lisbonner: Pode-nos dar o exemplo de um dos passeios que fez?

José Martins: Com o ponto de partida no Marquês de Pombal, seguimos pela Rua da escola politécnica, Príncipe Real, Chiado, Cais do Sodré, Santa Apolónia, subíamos Alfama. De Alfama ao Castelo de São Jorge, do Castelo até à Mouraria. Da Mouraria à Avenida Almirante Reis. É apenas um exemplo dos muitos passeios que fizemos.

Lovely Lisbonner: E faziam os passeios durante todo o ano?

José Martins: Durante a primavera e o verão.

Lovely Lisbonner: E ao longo de quanto tempo fez estes passeios?

José Martins: Fizemos ainda durante 3 anos.

Lovely Lisbonner: E durante essas caminhadas o objectivo era “descobrir” a cidade?

José Martins: Sim, era esse o objectivo, íamos parando ao longo do percurso para descobrir os vários aspectos da cidade, a arquitectura, as pequenas lojas e o comércio local.

Lovely Lisbonner: Qual é que é o seu local favorito em Lisboa, se tivesse de escolher um sítio, qual é que seria?

José Martins: Não é um sítio que eu frequente muito, mas é dos sítios em Lisboa, que sempre que visito me sinto bem, o Jardim da Estrela. Acho o Jardim da Estrela fascinante, porque é um pequeno jardim no centro de Lisboa, muito acolhedor. Não sou um grande frequentador, vou ao jardim da estrela talvez uma vez por ano. Mas sempre que vou acho fascinante.

Também gosto muito do Miradouro da Senhora do Monte. E de um sítio que se chama o Retiro das Águias, uma pensão-hotel na Graça, que tem uma das melhores vistas sobre Lisboa, e a própria arquitectura do edifício que é dos anos 20/30 é excepcional.

Lovely Lisbonner: E agora se pudesse mudar alguma coisa em Lisboa, sem ser o trânsito e o estacionamento, que neste momento são caóticos, o que seria?

José Martins: Já que fala nisso, eu acho que o estacionamento em Lisboa é uma coisa criminosa, porque nunca ninguém se preocupou em criar os verdadeiros parques de estacionamento dissuasores da utilização do carro privado.

Mas sem ser o estacionamento, se eu fosse autarca de Lisboa tentava fazer uma coisa, que era há muitos anos um dos fascínios de Lisboa e que hoje existe muito pouco. A vida de Bairro, voltou em alguns bairros como campo de Ourique e Alvalade. Mas eu tentaria que existisse uma política de incentivos, e fazer com que essa vida de bairro regressasse, até para não entupir a cidade.

Esta questão do turismo é muito interessante e é muito importante e ainda bem que há muitos turistas e cada vez mais pessoas a virem a Lisboa, mas nós corremos o risco de haver zonas da cidade que fiquem “entupidas”. Se houvesse Vida de Bairro isso seria outro tipo de atracção.

Lovely Lisbonner: E agora, pegando na questão dos Bairros, qual é que é o seu Bairro favorito?

José Martins: Campo de Ourique.

Lovely Lisbonner: E se tivesse de descrever Lisboa com uma frase ou com uma palavra, qual seria?

José Martins: Existe um poema do David Mourão Ferreira, o Maria Lisboa, e eu talvez utilizasse o Maria Lisboa para descrever a cidade de Lisboa.

É varina, usa chinela,
tem movimento de gata.
Na canastra, a caravela;
no coração, a fragata.

Em vez de corvos, no xaile
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile coo mar.

É de conchas o vestido;
tem algas na cabeleira;
e nas veias o latido
do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio, Maria.
Seu apelido Lisboa.

David Mourão Ferreira

Um obrigado muito especial ao José Martins, que no meio da sua agenda preenchida, encontrou  disponibilidade para conversar comigo.

Espero que tenham gostado, Bons passeios e até ao próximo Post.

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.